Núcleo de Leiria – Colóquio no Teatro Miguel Franco

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Por ocasião do seu centenário, o Núcleo de Leiria da Liga dos Combatentes (NLLC), considerou imperativo debater o futuro/perenidade, honrando aqueles que nos antecederam, nesta instituição que foi criada em 1923, com a designação Liga dos Combatentes da Grande Guerra, para ajudar as viúvas e filhos órfãos da Grande Guerra.
A Liga dos Combatentes da Grande Guerra voltou a ganhar importância com a Guerra do Ultramar e mudou a designação para Liga dos Combatentes para se tornar mais abrangente. Esperemos que ela consiga manter a sua importância sem ser por Portugal se envolver numa nova guerra. Mas a verdade é que o nosso país acaba por participar em muitos conflitos internacionais, felizmente que apenas nas chamadas Missões de Apoio à Paz, não obstante as trocas de tiros em que as nossas Forças já estiverem envolvidas. Esperemos também que a guerra na Ucrânia, com os últimos desenvolvimentos no interior da própria Rússia, não extravase para uma guerra aberta para além daqueles dois países.
Não obstante os muito milhares de elementos das Forças Armadas e das Forças de Segurança que cumpriram missões no estrangeiro ao serviço da Pátria desde o início do século e que, por isso mesmo, são Combatentes à luz do Estatuto da Liga dos Combatentes, poucos se têm tornado associados da mesma. Por esta razão interessa perceber o que está a faltar para que se estabeleça com a LC a mesma ligação que os Combatentes do Ultramar ganharam.
Com o objetivo de dar a conhecer as missões que as Forças Armadas e as Forças de Segurança têm no contexto internacional e debater o futuro ou a perenidade da Liga dos Combatentes (LC), realizou-se, no dia 24 de junho de 2023, um Colóquio no Teatro Miguel Franco organizado pelo Núcleo de Leiria da Liga dos Combatentes (NLLC), em parceria com a Câmara Municipal de Leiria (CML). De seguida serão apresentados os aspetos principais das intervenções dos participantes do Colóquio e, no final, serão apresentadas as principais conclusões do mesmo para que os vários Núcleos possam aproveitar as mesmas para as implementarem, se assim o entenderem.
RESUMO DAS INTERVENÇÕES
O Coronel Norberto Serra, Presidente do NLLC, abriu o Colóquio, cumprimentou todos os presentes e explicou os objetivos do mesmo. Seguiu-se uma intervenção do associado do Núcleo, Capitão Lourenço Faria, que falou da sua já longa ligação ao Núcleo e da importância que este tem no apoio aos associados e nos convívios que promove. Ainda na sessão de abertura, a Dona Jandira Teixeira, também associada do NLLC, falou da sua experiência como associada da LC, quer enquanto mulher de um Combatente associado, quer como ela própria, Sócia Apoiante. Salientou o facto de terem associados os seus netos logo nos seus primeiros anos de vida e do orgulho que estes sentem por serem associados da LC. Elogiou ainda a Dona Fernanda Simões, uma das primeiras Sócias Apoiantes, que presta um grande apoio aos associados do NLLC.
No 1.º painel, o Coronel Sousa Jacinto, Comandante do RA4 e moderador deste painel, começou por dar uma “panorâmica” do papel da Forças Armadas nas Missões de Apoio à Paz e do sentimento de muitos dos militares nestas missões, incluindo na sua interação com as populações locais ou mesmo em situações de combate, mais ou menos explícito. Falou da sua própria experiência nessas missões (participou em 5 missões no estrangeiro, nomeadamente, na Bósnia-Herzegovina, Iraque e República Centro Africana) e da carga de stress a que muitas vezes os militares estão sujeitos.
O Doutor Acácio de Sousa, fez uma resenha histórica desde a criação da LC até à atualidade, com detalhes muito interessantes acerca da criação do Núcleo de Leiria, na altura designada por Agência de Leiria. Referiu que primeiro livro de Atas que o NLLC tem em sua posse tem a 1ª Ata com a data de 18 de fevereiro de 1925, escrita na sala de Oficiais no Regimento de Infantaria Nº 7, em que foram eleitos os primeiros corpos gerentes da Assembleia Geral e da Direção. Assumiu a presidência da Assembleia Geral, o Coronel Francisco de Lacerda e Oliveira, Comandante do Regimento de Infantaria Nº 7, tendo escolhido para secretariar a assembleia o Capitão José Pereira Pascoal e o Tenente José Soares Jacinto Pereira. Ao Doutor Acácio não passou despercebido o facto de não se fazer qualquer referência ao passado do Núcleo, uma vez que ele já funcionava desde 1923, pois, na Ata n.º 1 da Liga dos Combatentes, elaborada aos dezasseis dias do mês de outubro de 1923, já fazia referência às catorze Agências existentes, nela constando que a Agência de Leiria tinha como Presidente Fernando de Barros Santa Rita. Por alguns documentos que o Doutor Acácio leu, presume que tal omissão seria de propósito e teria a ver com as diferenças políticas entre ambos.
Falou-se ainda da transposição de associados da Grande Guerra para os associados da Guerra do Ultramar, em que os primeiros tiveram alguma dificuldade em reconhecer os segundos como “verdadeiros Combatentes” e que isso também estaria agora a acontecer na transposição dos associados da Guerra do Ultramar para os Combatentes de Apoio à Paz. Ou seja, haverá sempre um certo sentimento de que a “nossa” guerra foi mais difícil do que a dos outros. Torna-se por isso necessário estabelecer as pontes entre ambas as gerações. Posteriormente, salientou que o Comandante da primeira Esquadrilha de Submarinos em Portugal, ao comando do Submarino Espadarte, Comandante Joaquim Almeida Henriques, foi leiriense e esteve na primeira Direção da LC como Vice-presidente.
O Major da Polícia Aérea, Pedro Pimentel, apresentou a ação da Força Aérea Portuguesa na NATO e na FRONTEX. Referiu que tem por missão garantir a defesa do espaço aéreo da NATO, nomeadamente evitar incursões da aviação russa na Lituânia, e verificar a identificação de aviões nos Bálticos (quando estes não estão identificados, até por simples problemas e comunicação). Falou ainda da FRONTEX, em que os aviões C-295 atuaram em Málaga para reduzir e controlar o fluxo de migração e combater o crime internacional organizado irregular. Referiu que é importante desenvolver ações de sensibilização para os Combatentes no ativo, nas unidades operacionais, sobre o papel da Liga dos Combatentes, pois percebeu que muitos camaradas não conhecem a Liga dos Combatentes.
No 2.º painel, António Sequeira, Moderador, recordou a questão do conceito de Combatente que foi posteriormente assunto de debate. O General Chito Rodrigues falou do esforço da Liga para que o Cartão do Antigo Combatente se deveria chamar antes Cartão do Combatente e que deveria conferir outro tipo de regalias mais úteis aos Combatentes.
O Major António Cardoso apresentou a GNR. Recordou que em 1914 foi criada a Guarda Republicana de Lourenço Marques que chegaram a ter intervenções de combate. Falou sobre a cooperação internacional através da Gendarmerie Europeia em missões internacionais de paz/gestão civil de crises, entre outras missões. Falou ainda das Forças destacadas no âmbito das políticas externas e da Rapid Response Police Unit em cooperação internacional. Indicou que a GNR teve mais de 1000 militares empenhados de 2007 a 2022 na FRONTEX e indicou resultados da ação da GNR neste período. Propôs a divulgação da LC na academia militar e nos cursos de formação da Guarda. Também recomendou que se convidem elementos da Guarda para estabelecerem pontes entre as Direções dos Núcleos da LC e as subunidades da GNR.
O Superintendente José Figueira, Comandante Distrital da PSP de Leiria, para além de apresentar a PSP, começou por recordar que os primeiros Combatentes que faleceram no Ultramar foram Polícias. Disse que muitos Polícias são Combatentes (no âmbito do estatuto da LC) que não sabem que o são. Para uma maior ligação desta Força com a LC, disse que deveria haver uma maior participação da Polícia nos dias de exortação nacional, como no dia 10 de junho, que é o Dia de Portugal, e não apenas das Forças Armadas, assim como desfilarem também no Dia do Combatente.
O General Chito Rodrigues comentou que foi a LC que levou o nome dos policias para as placas do monumento ao Combatente, em Belém. Após isso, o Superintendente fez uma resenha história da Polícia nas Missões de Apoio à Paz e recordou o Musa Paulino.
No encerramento do Colóquio, O Tenente-coronel Ley Garcia, referiu que algumas pessoas lhe tinham manifestado a sua satisfação por estarem a assistir ao colóquio pois estavam a aprender coisas que ouviam muitas vezes na televisão, mas não de forma assim sistematizada.
Recordou ainda que existem várias categorias de sócios da LC, nomeadamente, a de Sócio Apoiante, que poderá ser qualquer pessoa que se identifique com os valores da LC. Assim, a LC tem como base de recrutamento de associados praticamente toda a população, até porque estes associados podem usufruir de quase todas as regalias dos Sócios Combatentes.
O Dr. Gonçalo Lopes, Presidente da CML, enalteceu a importância do Colóquio pelos assuntos abordados e referiu que o NLLC é um bom parceiro para a realização de atividades de interesse para os leirienses pois sabe que pode contar com a disponibilidade dos seus dirigentes para colaborarem com o que for preciso.
O General Chito Rodrigues, Presidente da LC, referiu que este Colóquio veio mesmo ao encontro de uma das grandes preocupações da Direção Central da LC, tanto que publicou recentemente um livro cujo assunto é exatamente o mesmo do que o do Colóquio (tendo distribuído alguns exemplares pelos presentes). Acrescentou que tomou nota de várias ideias que colheu dos participantes e que irá providenciar para que elas sejam implementadas.
CONCLUSÕES
As propostas mais significativas resultantes do Colóquio foram:
•    Estabelecer as pontes entre ambas as gerações de Combatentes.
•    Desenvolver ações de sensibilização para os Combatentes no ativo, nas unidades operacionais, sobre o papel da Liga dos Combatentes (isto será          válido para unidades militares e da polícia, assim como até para algumas instituições civis para tentar arranjar Sócios Apoiantes)
•    Divulgação da LC na academia militar e nos cursos de formação da Guarda. 
•    Convidar elementos da Guarda (e da PSP) para estabelecerem pontes entre as Direções dos Núcleos da LC e as subunidades da GNR (e da PSP)
•    Maior participação da Polícia nos dias de exortação nacional, como no Dia de Portugal, assim como desfilarem também no Dia do Combatente.
•    Tentar angariar mais Sócios Apoiantes, uma vez que qualquer pessoa que se identifique com os valores da LC poderá ser Sócia Apoiante.
O General Chito Rodrigues disse que algumas destas propostas já foram implementadas, mas acabam por passar a esquecidas, especialmente com a mudança de Direções. Será por isso necessário criar mecanismos para garantir a sua continuidade de forma regular.
O sentimento final dos participantes foi de que o Colóquio, que foi realizado conforme planeado, alcançou os objetivos propostos e desejam que os seus resultados tenham uma ampla divulgação para que contribuam para um conhecimento mais profundo do que as Forças Armadas e as Forças de Segurança fazem em prol da segurança e defesa internacional e para a adesão de novos associados para a Liga dos Combatentes ,e assim, garantir a continuidade desta instituição secular e do seu apoio aos seus associados na vertente social, psicológica e de saúde.

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