Num país que frequentemente se esquece dos que o serviram com sacrifício e bravura, a inauguração do novo Centro de Apoio Médico, Psicológico e Social n.º 10 (CAMPS 10) da Liga dos Combatentes, na vila da Batalha, no dia 3 de julho, merece ser reconhecida como mais do que um simples ato institucional: é uma afirmação de responsabilidade moral e de compromisso social com os combatentes e suas famílias.
O CAMPS 10 – Batalha surge num contexto em que os combatentes portugueses, sobretudo os que participaram na Guerra do Ultramar, continuam a enfrentar desafios complexos — desde o abandono progressivo por parte das instituições públicas, até ao desgaste psicológico e físico acumulado ao longo de décadas. Este novo centro não apenas preenche uma lacuna na cobertura geográfica do apoio prestado pela Liga dos Combatentes, como também responde a uma necessidade real, especialmente em determinadas regiões do país, onde o acesso a cuidados de saúde especializados e apoio psicossocial é, muitas vezes, limitado.
O Núcleo da Liga dos Combatentes da Batalha, aceitando o desafio da Direção Central da Liga, e pensando nos combatentes da zona Oeste, composta pelos Núcleos de Abiul/Pombal, Alcobaça, Caldas da Rainha, Leiria, Marinha Grande, Peniche e Rio Maior, organizou-se de modo a poder suportar o apoio a mais esta estrutura, dento da sabida capacidade de trabalho voluntário e em pro bono dos seus elementos diretivos, e, com o esforço necessário, transformar a “loja” do Moinho de Vento em instalações modernas que receberão uma equipa multidisciplinar preparada para dar respostas nas áreas médica, psicológica e social.
O CAMPS 10 é mais do que um espaço de consulta: é um espaço de escuta, de memória e de reabilitação da dignidade. Não se trata apenas de tratar feridas visíveis, mas de acolher, compreender e apoiar os efeitos mais profundos e invisíveis da guerra — as memórias traumáticas, a solidão, a desvalorização sofrida por muitos que, ao regressarem à vida civil, se sentiram esquecidos por uma pátria que ajudaram a defender.
O papel da Liga dos Combatentes, neste contexto, ganha novo folego. Através do CAMPS 10, a Liga mostra que continua a adaptar-se aos tempos, sabendo que os problemas dos combatentes de hoje não são os mesmos dos anos imediatamente pós-Guerra do Ultramar. O envelhecimento da população combatente, a crescente incidência de doenças neurodegenerativas, o isolamento social e as carências económicas tornam essencial a existência de estruturas especializadas, sustentadas por um trabalho técnico rigoroso, mas também por um espírito de missão e entrega à causa.
É igualmente significativo que este centro esteja localizado na Batalha, um concelho fortemente marcado pela história militar portuguesa, símbolo de resistência e identidade nacional. A escolha não é casual — carrega uma mensagem simbólica de que o interior, tantas vezes esquecido, também é território de memória e de cuidados. O CAMPS 10 aumenta assim a rede de centros da Liga dos Combatentes já existente e abrangente a nível nacional.
A verdade é que, apesar do trabalho notável da Liga dos Combatentes, o apoio estatal aos combatentes continua, muitas vezes, aquém do necessário, apesar de uma mudança de paradigma nos últimos tempos. Não basta celebrar os combatentes no 10 de Junho ou em cerimónias protocolares. É preciso garantir condições de vida dignas durante todo o ano. E isso inclui acesso a cuidados de saúde adequados, acompanhamento psicológico continuado, apoio social e, acima de tudo, respeito.
O CAMPS 10 é mais um passo na única direção certa. Um passo que deveria inspirar políticas públicas mais estruturadas e mais humanas. Porque um país que não cuida dos seus combatentes é um país que não cuida da sua própria memória nem do seu compromisso com a justiça histórica. Não se trata de nostalgia ou de revanchismo — trata-se de reconhecer uma dívida moral e de assumir, com coragem, a responsabilidade por quem serviu Portugal em tempos de conflito.
Em última análise, todos os centros, como o CAMPS 10, são faróis de um princípio fundamental: ninguém que vestiu a farda ao serviço da pátria deve ser deixado para trás. Que este novo CAMPS seja, assim, não apenas um posto de apoio, mas um símbolo nacional de respeito, solidariedade e gratidão.
Prof. Dr. António Alexandre Nobre Evaristo, Coordenador Social do CEAMPS, Liga dos Combatentes
