Estatuto Editorial

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Um apelo aos que se bateram

“A «Liga dos Combatentes da grande Guerra» iniciando hoje a publicação desta revista, tem por fim tornar mais conhecidos os seus intuitos e dar uma mais larga expansão à sua actividade.

A Liga foi criada com o duplo objectivo de realizar a união dos combatentes, mantendo sem­pre neles, vivos e despertos, os mesmos sentimen­tos que na guerra os animaram, e de dispensar aos que em campanha se inutilizaram e ás viúvas e aos órfãos dos que lá morreram, o amparo material e moral a que têm direito.

Se a sua criação não foi isenta de embaraços, é agradável reconhecer que depois de inaugu­rada sob o patrocínio oficial, ela tem encontrado por toda a parte o mais benévolo acolhimento. Apesar da exiguidade dos seus recursos, a sua obra de assistência é já considerável, graças aos generosos subsídios que tem recebido; e as van­tagens de varia ordem que tem conseguido para os antigos combatentes são sobremaneira anima­doras. Mas a verdade — por que não dizê-la? — é que ela poderia ter tido uma acção mais vigorosa, e consequentemente mais benéfica, se muitos dos que estiveram na guerra se não tivessem até agora, com uma indiferença inexplicável, conser­vado afastados do seu seio.

Ao surgir em público o seu órgão, a Liga apela pois, por meu intermédio, para todos os que se bateram e lhe não deram ainda a sua adesão, exortando-os a que se não demorem mais tempo a trazer-lhe a sua coadjuvação há tanto esperada.

Nesta sociedade agitada em que vivemos, há muita gente que, no fragor das lutas que nos di­laceram, esquece que, por maiores que sejam as divergências de opinião e os antagonismos de in­teresses que nos separam, há deveres de soli­dariedade nacional que não podem ser posterga­dos. A nós, combatentes, que em face do inimigo tivemos ocasião de sentir tão imperiosamente a necessidade de uma união indestrutível, compe­te-nos dar ao país um exemplo salutar de ele­vação patriótica, mostrando-lhe que, sem nin­guém abdicar dos seus ideais ou das suas cren­ças, há campos em que todos os portugueses po­dem e devem encontrar-se. A nós cabe-nos tam­bém dar à palavra camaradagem, cuja noção está tão obliterada, todo o seu nobre e dignificante sentido, estreitando cada vez mais os laços indissolúveis que nos unem.

Muitos dos nossos camaradas de armas, e justamente dos que mais merecem o reconheci­mento geral, porque, sendo os mais humildes, foram os mais sacrificados, precisam do auxilio da Liga — e ela não lho poderá prestar eficaz­mente se não contar com o concurso de to­dos nós. Tão indeclinável reputo a obrigação de lho não recusar que, ao subscrever estas linhas, ouso esperar que o apelo que elas encerram será ouvido, não obstante eu não ter sabido dar-lhe, como desejava, a ressonância e a vibração d’um toque de reunir.”
Major Ribeiro de Carvalho
(Editorial publicado em 01 Jan 1926)